29 dezembro, 2009

Quando faltam os argumentos

Dizia um amigo meu que estão a faltar neste blogue posts a falar mal de coisas. Serve o presente para lhe fazer a vontade, portanto. E se é para falar mal de coisas, porque não falar mal de pessoas que falam mal das coisas?!

Com efeito, todos os dias ouvimos alguém queixar-se de algo. Ou o autocarro que se atrasou, ou a vizinha de baixo que faz muito barulho e não deixa o menino dormir, ou o mau gosto da colega, que levou uma camisa rosa choque para o trabalho.

Não me interpretem mal. Como pessoa (e, sobretudo, mulher) que sou, também eu gosto desse maravilhoso passatempo que é implicar com as coisas. O problema não é, portanto, a má lingua, mas tão somente o facto de que as pessoas já não sabem falar mal.

Por um lado, são demasiado caprichosas. Já não criticam só o que está mal, mas também o que não está bem, o que está bem mas devia estar melhor, e o que está óptimo mas foi outro a fazer. E põe tudo no mesmo saco, agitam bem e tiram sempre os mesmos motivos; uma mão cheia deles, todos semelhantes e que não compremetam muito a coisa - "não gostei", "está mal", "foi fraco".

Há ainda o caso extremo, em que acto e pessoa se fundem e, enrolando-se na má língua dão origem à língua afiada. Aí, os motivos já são em maior quantidade e mais originais, que uma pessoa, para insultar outra, tem sempre o que dizer. Se a Fifi da mercearia deixou cair o troco para trás do balcão, torna-se logo uma ladra, que sempre escondeu dinheiro numa das botas, quando o patrão não estava a olhar... Que só abusa da bondade do pobre senhor, já tão velhinho... E afinal verifica-se que toda a gente sempre se soube que ela era má rés, só não se lembraram foi de dizer...

Enfim, já não se sabe dizer mal em Portugal, é o que é. E os que dizem não passam de uma cambada de anormais e deficientes, sem mais nada para fazer - faltava dizer isto, que me estão a acabar os argumentos.

28 dezembro, 2009

Em frente ao espelho

- É hoje.
- Já? Ainda ontem andavas por aí a correr para afugentar as pombas!
(ligeiramente frustrada) - Sim, ontem fiz isso.
- Oh!
- Já sou uma senhora.
(ri-se) - Senhora? Não é a idade que te transforma em senhora. Há por aí tanta mulher que mais parece menina, e tanta menina que já é senhora!
- Então sempre o fui...
- Sim, sempre foste.
- Então vou aproveitar e ser menina desta vez.
E o espelho calou-se.

25 dezembro, 2009

Flocos de Neve

Caem-me flocos de neve dos olhos, e congelam nas pestanas, onde ficam pendurados, estáticos. São lágrimas de cristal que se recortam agora dos meus olhos e trespassam o meu coração.

Dizem que o coração não dói. Como se enganam! A dor sente-se todos os dias. Molda-nos a expressão, o rosto. Molda-nos a vida, a vontade de ser e conseguir. Destrói a aparência, a seriedade e a ilusão, desfazendo-as em partículas que se unem numa nuvem de frio eterno, que ocupa todo o ser do nosso ser.

Já não sorrio para fingir que tudo está bem. Já não canto na rua, quando ninguém me pode ouvir. Já não danço à chuva nem espero ansiosamente pelo Natal. Já não sonho com o futuro. O meu futuro é este. Este que sempre foi. Com flocos de neve nos olhos, e frio no coração.

15 dezembro, 2009

Continuo a achar...

... que quando se ama mesmo, mesmo, de verdade, é para sempre.
Que aquela pessoa se torna sangue do teu sangue;
parte da tua pele;
que fica presa no teu cheiro,
e se solta lentamente dos teus cabelos quando recebem o sopro do vento.

E é nessa altura,
quando o brilho dos teus olhos deixa de reflectir aqueles que te falam para mostrar em quem pensas,
nessa altura sabes que essa pessoa faz parte de ti, que é a tua família,
e assim há-de ser eternamente, até que a morte separe corpo e espírito.

08 dezembro, 2009

Turno da Noite

É uma série de 8 episódios de animação, onde se brinca com a vida e a morte, o certo e o errado, e a percepção da realidade das coisas. Chama-se "Turno da Noite", e foi feita para passar na RTP. Teve o azar de ficar com o turno da noite do canal, e só foi vista por aqueles que por acaso ligaram a televisão às 5h da manhã.

Porque a série é genial, tanto no argumento como nos desenhos, nas vozes e até na música, aqui fica divulgada. Enjoy.

22 novembro, 2009

Corrupção? Ai, meu Deus!

Há no mundo estranhas ligações que não conseguimos explicar e a que chamamos de coincidências. Coisas que acontecem, parece-nos, por mero acaso, e que vão tocar precisamente naquele ponto, que, noutros mil, não queríamos que tocasse. Coisas que vão juntar pessoas que conhecíamos mas não tinham qualquer relação entre elas. Coisas que nos acontecem precisamente a nós e a mais ninguém, naquele dia em que não podia, simplesmente, acontecer.

Coincidência ou não, a verdade é que, desde que se descobriu os esquemas do senhor Manuel Godinho, tem surgido um grande número de notícias religiosas na imprensa diária. E não são as banais notícias em que a igreja dá o seu parecer sobre medidas do estado, apesar da laicização se ter dado já em 1911. Bem pelo contrário. Temos padres que possuem armas ilegais para tráfico, outros que deixam morrer os pombos à fome, e até temos, imagine-se, igrejas à venda. É caso para dizer “Oh meu Deus! Onde é que este mundo vai parar?!”.

Dirão os mais cépticos em coincidências, que este é, precisamente, o objectivo. Que é melhor ficarmos com esta ideia na cabeça, do que aquela que ficaria se lêssemos o caso Face Oculta chapado na primeira página, sozinho: “Portugal é um país de corruptos.”.

É, da parte da igreja, uma forma de se redimir, já que o Godinho, tantas vezes enquanto oferecia carros e maços de notas aos seus funcionários, rezava a Deus, para que tudo isso ficasse em segredo divino. Não teve Deus piedade, e agora quem se ressente é a instituição, que tem de sofrer estes sacrifícios. Se bem que até ficam a ganhar, já que, pela primeira vez desde há muito tempo, todos os portugueses estão a invocar o Senhor.

Mas agora que pensamos bem, este relacionamento não é, de todo, de admirar. Afinal há, entre aqueles que praticam trafulhices e aqueles que dirigem o património do divino uma mesma preocupação: o dinheiro. Os primeiros, chantageando e falsificando dados. Os segundos, abrindo barraquinhas de recordações, onde vendem postais e velinhas, ou, em último caso, pondo a casa de Deus à venda. O que vendo bem as coisas nem é assim tão mal pensado. Se as casas de jogadores de futebol e estrelas de cinema valem o que valem, imagine-se só quanto valerá a da entidade máxima do universo!

Quanto ao empresário de Ovar, o processo vai ficar inconclusivo, já que, ao que parece, a justiça anda de olhos tapados – provavelmente por cheques grandes o suficiente para esconder todo este estado de coisas. Nada que se repreenda, já que, no fundo no fundo, seja de um lado ou do outro, tudo acaba da mesma maneira. Dez pais-nosso e vinte ave-marias, e também Deus esquece a omnisciência e fecha os olhos ao pecado.

14 novembro, 2009

palavras invisiveis

Há palavras escritas com letras invisíveis, ditas por lábios mudos a ouvidos que não as querem ouvir. São os sorrisos e lágrimas derramadas pelo mundo, escondidas entre sombras e esquinas, paredes riscadas por declarações de amores eternos há muito acabados, e estações de metro abandonadas. São os assobios do vento que nos entram pela janela em noites de tempestade, o barulho dos tacões altos a percorrer um corredor vazio, o cheiro do verão à beira rio, as luzes de natal numa rua movimentada.
São essas palavras que chegam até nós sem darmos conta, que quebram as barreiras invisíveis que impomos a nós mesmos, e nos fazem sorrir, mesmo se vamos sozinhos na rua, e todos nos olham de lado por sermos simplesmente diferentes - neste mundo cinzento a girar a mil à hora, nos vagueamos simplesmente, sem qualquer rumo, carregados de cor.

12 novembro, 2009

69

Até pode ter sido uma coincidência, ou simplesmente um funcionário dos STCP que num momento de frustração decidiu brincar um bocadinho e vingar-se do patrão de forma excêntrica:
o autocarro 69, apanha-se no Bolhão e tem como destino o Seixo. Ora vejam lá comé que isso soa:
- Vou apanhar no Bolhão o 69 para o Sexo... ai, não, Seixo, li mal, peço desculpa...
Poisé. Se o governo muda o nome de Cartão Único para Cartão do Cidadão, para não gerar confusões do género (sim, porque imaginem lá como soaria se fossem a algum lado e vos dissessem, 'mostre lá o seu CU'!), bem que podia dar um olhinho neste assunto...

10 novembro, 2009

Caras amigas imaginarias:
agora, tambem eu me juntei a voces no mundo da irrealidade.
Afinal, talvez nada seja real e não passe de um delirio colectivo e inconsciente.

30 outubro, 2009

Guardei os silêncios numa caixa e gritei ao mundo - JÁ CHEGA, QUERO RESPOSTAS.
O luar tremeu e o chão incendiou-se com a faísca que os meus olhos soltaram.
Estou simplesmente cansada de gritar e nunca ser ouvida, quando o que eu queria mesmo era que escutasses o silêncio dos meus olhos.

29 outubro, 2009

Adeus

"Adeus" - e a inocência foi-se embora, não de mansinho, mas galgando a terra, fugindo a sete pés. Do outro lado da colina, uma lágrima espreitava-a com saudade, recordando os tempos em que o cor-de-rosa era, mais que uma cor, uma forma de vida.

22 outubro, 2009

Loja de Recordações


Estava a rever as fotos do Verão, quando me apercebi que tinha tirado esta foto para fazer um post aqui no blogue, e acabou por ficar esquecida...

E o que é isto, perguntam vocês, e porque motivo quis colocar aqui no blogue? Isto é, nada mais nada menos, que a loja de recordações de uma catedral que visitei em França. E acho que isto já diz tudo.

20 outubro, 2009

Os Oficiais da GNR estão a preparar uma revolta

É este tipo de notícia que me choca.
Não pelo facto de os oficiais da GNR estarem a preparar uma revolta, mas pelo facto de vir nas notícias o que eles vão fazer para se revoltarem, onde são as suas "reuniões secretas", quantas são as pessoas envolvidas, e como comunicam entre eles.
Sem dúvida que vai ser uma grande revolta.

15 outubro, 2009

Daniel's book

As gotas de chuva agarravam-se-lhe às pestanas e sobrancelhas, enevoando-lhe a visão. Era isso que o incomodava, mais que as roupas encharcadas, que lhe pesavam e dificultavam os movimentos, mais do que o frio que lhe penetrava a pele e arranhava os ossos. Não lhe importava que a corrida se tornasse cada vez mais lenta à medida que o cansaço lhe entorpecia as pernas e lhe faltava o fôlego. Só queria absorver todo aquele espectáculo de labaredas erguendo-se em direcção ao céu, cobrindo-o de nuvens negras, e apesar da poeira lhe fazer arder os olhos, recusava-se a fechá-los.

13 outubro, 2009

Sonhei...

Sonhei com gatos que me queriam matar.

De acordo com os guias de interpretação de sonhos significa que vou ter "convites interessantes".

(para me lembrar da proxima vez que pensar sequer em consultá-los)

01 outubro, 2009

Lisboa

Fiz no fim-de-semana passado uma viagem até Lisboa. Foi a primeira vez que lá fui sem pais, professores ou qualquer outro adulto a organizar a estadia, portanto tive uma perspectiva completamente diferente daquela que até agora tive dessa cidade.

A primeira coisa a notar é a forma da cidade. Ao contrário do Porto, que é uma espécie de bolinha, Lisboa é comprida - assim como uma lagartixa. Ou seja, tudo em Lisboa é longe, e se se quiser ir a algum lado tem SEMPRE de se apanhar um autocarro, metro, comboio ou eléctrico, ou, por vezes, dois ou três destes transportes combinados. Tendo em conta que cada viagem custa quase 1,5€, gasta-se dinheiro em Lisboa. Para além de que à custa de não podermos andar, ficaríamos balofos se lá vivêssemos.

Em seguida há que notar que as pessoas em Lisboa não falam, sussurram. É verdade, os Lisboetas falam tão baixinho que, se formos no metro, não conseguimos ouvir as conversas das pessoas que vão atrás de nós. Este facto torna as viagens muito monótonas, para além de que nos deixa constrangidos sempre que, sem querer, nos esquecemos de fazer um esforço para ser como eles, e nos rimos normalmente, o que a eles soa como um riso histérico e abusivo. Para reforçar a ideia, faço ainda notar que, se estivermos a almoçar no Mcdonalds de Belém, não ouvimos risos ou gritos de crianças, o que, tendo em conta que este fica ao lado de um parque infantil, é, no mínimo, assustador.

Por fim, se um bêbedo entrar no autocarro em que viajam, ninguém mete conversa com ele!!!!!


Encontre as diferenças

















Por mais que tente, não consigo serparar os dois! o.O

21 setembro, 2009

Olho as paredes sem tecto e recorto corações de papel. Mais tarde farei com eles uma manta de retalhos para servir de telhado. Enquanto não chover, será suficiente.

17 setembro, 2009

Em frente ao rivoli, o rapaz estende-lhe a mão, puxa-a para ele, e murmura: "amo-te". A palavra faz-lhe cócegas nos ouvidos, percorre-lhe o corpo como um arrepio, e ressoa na sua mente. Nesse instante ica com a certeza de que esse momento nunca se apagará da sua memória: o cheiro dos legumes a ser cozinhados no andar de cima, o som de palmas no final de uma peça de teatro, e aquele olhar intenso e sincero, que só por si evoca uma quantidade de sentimentos que só os dois poderão experimentar. O mundo pára de girar, e todos se imobilizam enquanto a respiração acelera e o tum-tum do coração se faz ouvir mais alto. Os seus lábios unem-se então, num pacto eterno de amizade e cumplicidade, de carinho e aceitação.

Ao longe, uma rapariguinha rota e mal vestida olha-os. Tem os olhos marejados de lágrimas. As gentes que passam julgam tratar-se da dor de um amor passado, das feridas abertas que traz no peito. Nunca imaginam tratar-se apenas de duas gotas de alegria, por presenciar à sua frente um dos mais belos sentimentos do mundo. Por saber que esse homem lhe pega na mão com o cuidado que teria com uma boneca de porcelana. Por saber que essa mulher que ali está sorri finalmente, e é feliz.

07 setembro, 2009

Linguagem sms


Já de há algum tempo para cá que me apercebo de que consigo dizer menos coisas em certas sms do que noutras - e aqui refero-me apenas ao espaço de 1 sms mesmo.

Ora a principio pareceu-me que seria apenas uma ligeira impressão, mas com o tempo a ideia foi-se fortalecendo. Então pensei que se deveria ao facto de haver palavras maiores que outras, e que ocupam, portanto, mais espaço. Mas hoje chegou ao cúmulo. A mensagem era tão pequena comparativamente a outras, e já excedia os caracteres válidos! Decidi, portanto, investigar, e cheguei à fantástica conclusão de que há letras/simbolos que ocupam mais do que um caracter.

É o caso do nosso rico Ç, que ocupa, nada mais nada menos do que 93 caracteres!!! Isso mesmo, leram bem. Cada vez que escrevem um Ç perdem 93 caracteres de espaço na vossa mensagem. Ora como isto é um abuso, vejo-me agora a dizer sim à linguagem sms, e nunca mais na minha vida escrevo um Ç numa mensagem.
Faz a pergunta de novo, mas a resposta é a mesma: um silêncio entrecortado por uma respiração forte, ruidosa. Duas lágrimas caem por entre soluços descontrolados. O telefone continua preso na sua mão. "Desculpa." O céu abate-se sobre ela, como se a força da gravidade se tivesse finalmente imposto, e de repente o chão está mais perto que nunca. Pergunta-se se por algum milagre terá encolhido, qual Alice no País das Maravilhas. Mas o seu mundo de maravilhas não tem nada. Tudo se foi pela frincha da porta do quarto, esse lugar de sonhos onde tantas vezes se refugiara para se esconder da realidade, e que agora se tornara como uma prisão de arame farpado, rasgando-lhe a pele e prenetando o seu íntimo. Porquê. Seria a pergunta correcta a fazer - porquê a mim, porquê agora, por que motivo. Mas a única coisa que pensa é quando. Quando irão as feridas fazer crosta, deixando para trás apenas uma pequena marca da sua existência? Quando irá recordar-se daquele momento com a nostalgia que nos traz lembrarmo-nos do passado? Quando irá voltar a sorrir ao mundo? E de repente a resposta impõe-se, fria e implacável: nunca.

03 setembro, 2009



Sonho que esse momento se prolonga pelo eterno. Estáticos, continuamos essa valsa de sentidos que nos entontece docemente. Não há tempo ou espaço, não há som ou silêncio. Há somente um bater contínuo e longínquo, e um calorzinho proveniente do bombear do sangue. Os nossos corações batem assim em uníssono, marcando o compasso de uma melodia que só nós conseguimos escutar, e que nos faz dançar assim, eternamente.

01 setembro, 2009

O jogo da vida

Perder ou ganhar. É esse o resultado de qualquer jogo que existe, seja ele o pedra papel tesoura, o monopólio ou o Euromilhões. A vida, como jogo constante que é, não é excepção. Uma vez ganhamos, outras perdemos. Estranha é a forma como tudo isto se processa, numa encruzilhada de voltas e reviravoltas dificeis de compreender.

Ao contrário de uma partida de poker em que todas as cartas estão na nossa mão, o destino guarda trunfos escondidos que não prevemos e que alteram completamente o nosso passado, presente e futuro. Passado, pois muitas vezes nos leva a encarar uma recordação de maneira diferente. Futuro, ao dar-nos novas cartas para a próxima jogada.

O problema é que na vida não há regras. Cada qual define os seus objectivos, os seus obstáculos e limitações; joga as suas cartas ou lança os seus dados à sua própria maneira. O entendimento é assim impossível neste campo - a resposta não responde à pergunta e a pergunta nunca esperou qualquer resposta. É por isso que nos impomos, que criamos regras e leis que partilhamos entre nós, na esperança de criar um cinto de segurança contra o destino. Mas de que nos adianta um cinto de segurança quando o nosso carro está prestes a ser engolido por um furacão?

Há no entanto certas pessoas que estão em sintonia. São essas as pessoas que procuramos durante toda a nossa vida, as ditas almas gémeas que raramente nos aparecem. E a bolinha continua a rolar sobre o tabuleiro vermelho e preto, à espera de calhar na casa certa. Será justo esperarmos sempre que essa seja a nossa casa? Será certo que hajam sempre vencedores e vencidos? A verdade é que a justiça do mundo é muito simples: quando nos dá uma coisa, tira-nos outra, para dar a outra pessoa.

Foi isso que se passou comigo. Vivi uma época de sorte, em que o meu jogo corria sempre bem e o que ganhava compensava sempre o que perdia. Mas chega sempre o dia em que o vencedor cai do pódio. Um passo do destino que mudou toda a minha vida. Recuperei quinze anos em quatro dias. Perdi quatro anos numa semana.

Perdi. Ganhei. No fundo sou apenas mais uma vítima dessa grande sala com sofás vermelhos e mesas forradas com pano verde, onde as fichas de jogo são os nossos sentimentos e atitudes, e onde as apostas não param, fça calor ou faça frio, seja noite ou seja dia. Sou apenas uma vítima da vida.



30 agosto, 2009

Deviantart

Comecei a por as minhas fotografias no Deviantart.
Visitem! :)

28 agosto, 2009

Diversidade

Tenho sangue português, francês e suísso. Tenho genes italianos, alzacianos e até russos. Tenho uma tia cristã, uma avó judia, mãe budista e irmão ateu. Tenho amigos góticos, amigos hippies, amigos skaters e outros que não têm definição. Tenho família em Lisboa e no Algarve, no Brasil, Espanha e França. Tenho sapatilhas e sapatos de tacão alto. Tenho lágrimas e sorrisos. Conheço gays e heterossexuais. Saio à noite e durante o dia. Escrevo à mão e no computador. Tenho amigos na faculdade, outros no secundário, e outros que trabalham. Já tive os meus pais juntos, separados, e agora só tenho mãe. Já vi pessoas a nascer, e pessoas a morrer. Já tive namorados e já deixei de ter. Já andei no chão, no ar e no mar. Sei andar e correr, sei nadar, e às vezes também voo um bocadinho. Gosto de prosa e poesia, romances e policiais. Gosto de estar sempre a sair, e de ficar em casa sem fazer nada.Gosto de desenhos animados e filmes de terror. Não gosto de dormir, nem de acordar. Sou morena de olhos castanhos, meu irmão loiro de olhos azuis. Sou alta junto de pessoas baixas, baixa junto de pessoas altas. Gosto de arte gótica e urbana.

Sou como o mundo - tenho diversidade.

23 agosto, 2009

Quando forem para fora...

Quando forem para outro país, lembrem-se que lá TAMBEM PODEM ESTAR PORTUGUESES!

Este é aquele tipo de história que já toda a gente ouviu falar, mas com que nunca nos preocupamos, pois parece sempre que não nos vai acontecer a nós.

Imaginem que estão em França. Imaginem que estão num lago, a nadar. Imaginem que vêm um homem muito peludo! Antes de o chamarem de Homem-macaco, vejam se ele não é português também. Caso contrário pode acontecer que ele se desate a rir na vossa cara, ou, se tiver mau feitio, vos dê um soco.

12 agosto, 2009

02 agosto, 2009

Leitura Conjunta

A propósito do último post:

o livro Drácula foi lido para uma Leitura em Conjunto, uma actividade do forum Estante de Livros, em que, basicamente, quem estiver interessado vai lendo o livro por fases e vai analisando aquilo que foi lido.

Acho importante divulgar este forum e esta actividade especificamente, porque acho uma óptima iniciativa. À medida que vamos discutindo pontos de vista e opiniões, vamos reparando em pormenores que não tinhamos reparado e vamos vendo novas interpretações muito interessantes, que nos levam a reflectir e ter uma nova atenção ao livro. Além disso, é uma forma de incentivar a leitura, já que sentimos vontade de ler mais para verificar as nossas ideias e discuti-las com os outros.

Rezumindo: inscrevam-se todos e experimentem!

Drácula, Bram Stoker



Quando Jonathan se vê trancado no castelo de Drácula, começa a perceber que há algo de errado com o conde. Porque será que fica acordado durante toda a noite e se deita durante o dia? Porque motivo não tem funcionários? E porque é que nunca come à sua frente? Através de diários e outros relatos elaborados pelas personagens, vamos descobrindo que ser maligno é Drácula e como enfrentá-lo.

Este é, provavelmente, o pai dos livros sobre vampiros, título que lhe dá, de certa forma, um valor muito alto, que cria demasiadas expectativas no leitor. De facto, a história, escrita na época vitoriana, é caracterizada por um suspense excessivo e algumas contradições que podem ser pouco apreciadas pelos leitores actuais. Assim, por vezes a história parece que nunca mais avança, e os acontecimentos enrolam-se uns nos outros, mas noutras alturas a acção toma-nos, e não sentimos vontade de largar o livro.

O facto de ser um livro antigo, dá-nos ainda outras indicações sobre a época, como sendo a diferença entre homens e mulheres, tanto a nível do tratamento como na forma como são vistos, indicações sobre tratamentos médicos, etc.

Portanto, na altura em que foi escrito terá sido, com certeza, um grande avanço, bastante inovador e original, para não dizer assustador, mas que deixará os leitores do século XXI um pouco desiludidos. Não deixa no entanto de ser uma leitura de eleição para todos aqueles que se sintam atraídos pelo obscuro, pelos vampiros e por livros de terror.

24 julho, 2009

Homem T

A Avenida dos Aliados, no Porto, está agora povoada por uma nova e original exposição. Povoada é exactamente o verbo a usar neste caso, já que a exposição se trata, nem mais nem menos, de uma série de figuras que representam o Homem T, um trocadilho entre Espaço T, promotor do evento, e homem Total, que seria aquilo que cada artista deveria representar.

O Homem T pode, assim, ser o equilibrio, pode ser apenas uma sombra, pode ser feito de sonhos, pode ser a justiça, ou a cegueira - a epidemia do século XXI, pode ser a (in)justiça, pode ser a diferença, pode ser natural ou precisar de uma mãozinha. Cabe-nos a nós decidir qual melhor diz connosco.

Escusado será dizer que acho maravilhoso levar a arte para a rua, onde possa enfeitar os espaços e permitir que qualquer um pare, por cinco minutos, para apreciar aquele pedacinho que com certeza mudará o seu dia. Como é delicioso passar pela Avenida e vê-la tão cheia de "gente", tão cheia de cores e de alegria!


20 julho, 2009


Composição de Design sobre Álvaro de Campos, feita em conjunto com a Catarina Mesquita.

14 julho, 2009

Erros ortográficos

Este é o tipo de coisas que me deixa os cabelos em pé. Dizem-no os meus amigos, sempre que me queixo das mensagens, diz a professora de educação física do ano passado, a quem risquei o enunciado do teste, e dirão agora estes senhores, de quem recebi este e-mail:

Recebes-te este email porque estás registado num jogo da Gameforge (OGame, Galdiatus ou outro) e com os T&C aceitas-te receber emails.

Custa muito perceber que recebeste e recebes-te se lê de maneira diferente?! Opa, se custa, então troquem a palavra... Chupamos e chupa-mos não é igual pois não? Pois.

13 julho, 2009

Brinka


Hoje fui à Brinka e deparei-me com este boneco de peluche. --->
Ora a faixa etária a que os peluches são dirigidos são crianças pequenas e bebés, e parece-me simplesmente errado e abusivo este tipo de manobra publicitária que influencia as criancinhas a beber coca-cola num futuro próximo. Mais, se ainda fossem bonecos baratos, ou gratuitos ainda faria algum (pequeno) sentido, mas assim é completamente descabido. Quem é que vai pagar para fazer publicidade e influenciar os filhos?
Ridículo.

Já não digo o mesmo quanto a uns livros da Disney que encontrei lá chamados 'A minha versão da história'. Basicamente eram livros sobre as histórias que todos conhecemos mas contados por personagens da história. O que eu vi era a Bela Adormecida, contada pela bruxa má. Pelo que li, ela pretende desmentir algumas acusações que lhe fizeram. Como ela diz, não entrou palácio numa nuvem negra, mas sim pelos portões, onde os guardas estavam a dormir uma soneca. Assim como não foi nada antipática com o príncipe. Até o mandou para a "masmorra", que é como ela simpaticamente chama à sala de esperas da sua empresa E.V.I.L. (não me lembro do significado da sigla, mas começava com Envenenamentos...), com sucrussais em todo o mundo!
Espetacular.

08 julho, 2009

O meu avô

“Como vai o mundo?”. É esta a frase que associo ao meu avô. Dizia-a sempre com muita alegria, abrindo muito os olhinhos redondos, escondidos por entre a pele encorrilhada, e fazendo um sorriso maroto que lhe arrebitava a pontinha dos bigodes.

Deveria ter sete ou oito anos, quando lha ouvi pela primeira vez. Logo que saia da escola ia para sua casa, e passava as minhas tardes a brincar no quintal. Nessa altura, gostava de me empoleirar numa árvore, para espreitar a vida fora daqueles muros. “Como vai o mundo, Isabel?”, começou a dizer sempre que me encontrava a fazê-lo, tornando-a numa doce reprimenda que me deixava embaraçada.

Logo deixei de espreitar os vizinhos, mas a minha curiosidade para com o mundo não diminuiu, antes cresceu, fazendo com que eu, aos doze anos, decidisse que queria ser jornalista. Logo se montou um jornal em casa dos meus avós. Ironicamente, demos-lhe o nome de “Jornal do Quintal”, e ali comecei a escrever sobre os gatos que vinham roubar fruta, o óvni que vira a rondar o quintal na tarde anterior, ou qualquer outra invenção que me parecesse interessante. “Então, como vai o mundo?”, perguntava sempre que me via a correr com o pedacito de papel debaixo do braço, ainda escrito à mão.

Poucos anos depois o meu avô ganhou cataratas. Começou a cansar-lhe ler as letras pequenas dos jornais diários, e eu oferecia-me sempre para lhos ler. Sentávamo-nos então no quintal, e ele pedia “Ora diz-me lá como anda esse mundo…”.

Não tardou a que me tornasse adulta, não deixando, no entanto, de o visitar todos os dias, nem que fosse para lhe dar um beijinho. O “Jornal do Quintal” há muito que fora esquecido, e eu trabalhava agora com um jornal de verdade. Sempre que passava a porta de entrada, o meu avô cumprimentava “Como está hoje o mundo, Isabel?”, querendo com isto perguntar como me correra o dia no trabalho.

Hoje o meu avô já não se encontra entre nós. No entanto continuo a ouvi-lo perguntar pelo mundo, curioso com o que se tem passado cá por baixo nos últimos tempos.

05 julho, 2009

Vida sobre rodas


As pernas já me tremiam, sentindo aquela ansiedade eminente a que nós gostamos chamar de "pica". O peso dos exames, do tempo que passara, a saudade dos que ficaram, tudo me chamava para aquele momento único, em que eu e o ar nos tornamos num só, dançando indefinidamente ao sabor do vento.

O dia estava solarengo. Quente a mais na realidade, não fosse o escaldão nas bochechas que me ficou como marca de mérito pela presença. Os outros voavam sobre as armações de ferro à nossa frente, desafiando a gravidade com um sorriso perverso no rosto. Por vezes, ela ria-se de volta atirando-os com toda a fúria sobre o asfalto. Voltar ao ponto em que ficara não foi fácil, mas meia dúzia de saltos e uma queda foi o que bastou para incentivar o corpo e deliciar o espírito.

E agora? A parte mais empolgante de um fim-de-semana de skate: um dia de lamentações e de não-me-apetece-sair-da-cama, em que mexer uma articulação que seja equivale a um esforço sobre humano. Dói-me tudo. Desde o osso periquerotional, no dedo mindinho do pé, ao osso cultoteral, na cabeça. Mas são ossos do ofício, e o meu é parti-los! Para além do mais, algum preço tínhamos de pagar por levar a vida sobre rodas...

03 julho, 2009

O Rapaz do Pijama às Riscas


Esta é mais uma história sobre a II Guerra Mundial. Mais uma história sobre a Alemanha e o holocausto. Mais uma história sobre os meninos que aí viveram. No entanto, esta história é diferente. Diferente, porque é apresentada na perspectiva do Bruno, um menino nazi que não compreende aquilo que se está a passar. Ao longo das páginas, este menino vai-nos deliciando e apaixonando, à medida que vamos vendo as coisas sob o seu inocente olhar.

A história começa quando a família de Bruno vai viver para um campo de concentração de que o pai está a tomar conta. Bruno passa os primeiros tempos sozinho, até que conhece um menino que vive do outro lado da vedação, que, tal como todos os que lá vivem, é muito magro, usa o cabelo rapado e um pijama às riscas. No auge da sua inocência, Bruno acaba por invejar o seu novo amigo, já que também ele gostava de poder andar de pijama todo o dia e ter mais meninos com quem brincar.

Não se pense, no entanto, que a inocência de Bruno retira a importância e a brutalidade característicos desta época. Pelo contrário, apenas a acentua, pois acaba por criar um forte contraste de sentimentos que tornam a história triste e arrebatadora.

30 junho, 2009

Os Lusíadas não fazem sentido

Para além dos perigos da viagem à Índia, os Portugueses passaram também por perigos em terra. No entanto, uns ou outros não contribuíram em nada para os glorificar, sendo Os Lusíadas apenas uma fachada com que tentaram justificar e glorificar os seus erros.

De facto, os primeiros “grandes” feitos dos Portugueses foram as guerras aos mouros. Estas não foram no entanto, justas. O Conde D. Henrique, recebera uma terra de ninguém, onde os mouros já habitavam, e foi D. Afonso Henriques que os expulsou, para criar um novo país, uma nova nação anteriormente inexistente.

Somos agora igualmente conscientes da inutilidade de uma guerra, que só traz consequências negativas: mortes de inocentes, destruição e problemas económico-sociais.

Se isto começa a parecer contraditório, vejamos ao que levou verdadeiramente as conquistas de além-mar. Impusemos a nossa religião e a nossa cultura a povos com Fé e vidas muito específicas, talvez mais atrasadas a certos níveis, mas noutros, mais adiantadas – caçavam apenas o que comiam, respeitavam-se uns aos outros e aos animais, e não praticavam guerras absurdas e ridículas. Escravizámo-los, para que servissem os nossos propósitos e vontades, sem nos preocuparmos com a dor que lhes infligíamos, a liberdade que lhes negávamos, a família de que os separávamos.

Não será portanto disparatado glorificar e pavonear feitos dos quais nos devíamos envergonhar? Não deveria Camões um pedido de desculpas a todos os povos massacrados, a todos os soldados sacrificados? Os Lusíadas não fazem sentido.

23 junho, 2009

Festas

Esqueçam lá o Cranaval do Brasil e o Halloween na Inglaterra. Esqueçam o dia de Acção de Graças da América e o Roskilde Festival da Dinamarca. Vem aí a melhor festa do MUNDO: o S. João do Porto.

19 junho, 2009

Ler é preciso


Até eles o sabem.

17 junho, 2009

Distância

Vi-te pela última vez há catorze anos, nesse tempo em que ainda dávamos as mãos e partilhávamos alegrias e receios. Separados, continuamos os nossos caminhos, divididos pela distância física e temporal que se impunha. Duas vidas tinhas tu. A tua, da qual eras o gatekepper que deixava entrar ou sair quem bem entendesse, da qual tinhas controlo e poder de decisão. A minha, delicada e silenciosa, passeando pelos meandros da minha memória, as recordações de tempos de infância. Hoje a vida que te foi dada poderia ser só tua. Mas preferiste assim, de forma altruísta e pura, um pouco cruel, talvez, cruzar de novo os nossos caminhos e entregar-te a mim. Hoje continuas a viver, mas apenas na minha memória.

Trapézio sem Rede

A lágrima caiu-me até ao nariz, fazendo-me comichão, mas não tive coragem de a afastar. O choque inicial passava agora, e as memórias longínquas começavam a desfilar na minha mente, numa dança lenta e agonizante. Com seus pés de bailarina, iam passando por mim, rasgando os tecidos da minha tranquilidade, a minha rede de conforto e segurança. Olho assim, do alto do trapézio. Este foi o meu último salto. Não há mais nada por baixo.
Sempre me perguntei se choraria quando chegasse este momento.
Agora já sei a resposta.

10 junho, 2009

És o maior, meu!

Peter Klaven é um agente imobiliário com uma vida estável, prestes a casar com a mulher dos seus sonhos, Zooey. Há, no entanto, uma questão que começa a atormentá-lo: não tem nenhum amigo que seja suficientemente próximo para ser seu padrinho. Impõem-se uma única solução, fazê-lo. Mas quem quererá ser seu amigo? Como irá conhecê-lo?

Confesso que antes de ver o filme achei que seria mais uma daquelas comédias para adolescentes, em que a história pouco sentido faz, e as piadas giram todas em torno da sexualidade, mas enganei-me. Trata-se, pelo contrário, de uma história original, e que podia perfeitamente acontecer na vida real. O novo amigo de Peter é muito espontâneo e verdadeiro, e vai trazer um pouco de caos à vida do noivo. As cenas mais engraçadas são estas, em que um contido agente imobiliário se sente confrontado com a realidade descontraída de outra pessoa.

E se isto não chegar para convencer a ver o filme, aqui fica o convite, tão engraçado e apropriado! :



Estreia a 11 de Junho.

A não perder!

07 junho, 2009

Bollywood, uma escola diferente - (tentativa de) Reportagem

Fundada em 2008, a Bollywood é a primeira escola de skate do Porto. As aulas têm lugar na Casa da Música, aos fins de semana, num agradável ambiente de familiaridade, no seio da agitação que é a própria modalidade.

São 15h35. O sábado está soalheiro e a Casa da Música apinhada de jovens com um traço em comum: todos eles têm a mesma paixão, o skate. Alguns estão sentados no chão, a conversar, outros a descer as rampas laterais e deslizar numa barra de ferro. Num dos grupos, um adulto destaca-se, com o dobro do tamanho, por entre as cinco ou seis cabecinhas de criança que saltitam à sua volta.

- Três voltinhas à Casa, pessoal. – anuncia Hugo. As cabecinhas dispersam, todas no mesmo sentido. A aula de skate está a começar.

Foi há um ano e meio que Zé, como todos o chamam, teve a ideia de criar esta escola. A ideia surgiu quando se apercebeu que existia uma saturação das escolas de surf. Como sempre teve lojas ligadas ao skate, e numa óptica de novidade, achou que fazia todo o sentido criar estas aulas.


Os primeiros meses foram os mais difíceis, por causa do investimento que teve de ser feito em publicidade, e por ainda não haver um conhecimento das aulas por parte do público. No entanto, Zé considera que a escola está a seguir o bom caminho, crescendo devagar mas com segurança - se inicialmente os alunos eram filhos de conhecidos, agora há já vinte e oito inscritos.


Zé fica um pouco afastado do espaço de acção, a conversar com dois pais que assistem à aula.

O aquecimento está feito, e Hugo dá as indicações para o exercício seguinte. Hoje as crianças vão treinar uma das manobras mais simples, o ollie. Para fazer o truque é preciso “dar o pop e puxar o pé para o nose”, segundo as explicações de Hugo. Os termos podem parecer complicados, mas estes meninos, entre os seis e os treze anos, percebem-nos perfeitamente. Alguns começam logo a saltar, outros precisam de mais atenção e ajuda.

Enquanto praticam, os rapazes vão conversando. As conversas centram-se, obviamente, no skate. Primeiro sobre um vídeo do maior ollie alguma vez dado, que alguns viram no Youtube, depois, sobre o jogo Tony Hawk, para a Playstation. Discutem estes temas como pequenos entendidos. Sabem o nome de todos os truques conseguidos no jogo e tentam reproduzi-los ali mesmo. O skate salta-lhes dos pés, faz duas ou três piruetas no ar e acaba por aterrar a uns metros de distância. A macacada fá-los rir, e tentam, desta vez, repetir a proeza dos amigos.


Apercebendo-se da agitação, Hugo pára a aula por dez minutos para fazerem o que lhes apetecer, desde que depois se concentrem e trabalhem, claro! A reacção é instantânea: correm para o topo das rampas, de onde se atiram, uns em pé, outros sentados e até deitados, todos juntos ou aos pares, descontraidamente ou em jeito de corrida.


As aulas não são, portanto, muito rígidas. Para além dos intervalos que faz sempre que achar necessário, as crianças estão autorizadas a desaparecer no interior do edifício, em busca de um quarto de banho ou uma garrafa de água. Também podem parar sempre que precisem de descansar um pouco, ou para quebrar a monotonia de estar sempre a fazer o mesmo exercício. Por vezes, quando alguém exterior à aula tenta uma manobra mais complicada, as cabeças voltam-se instantaneamente na sua direcção, e durante esse tempo, o truque que estão a tentar fazer fica esquecido.
Hugo não se zanga.

- O skate é mesmo assim: ter a liberdade de se andar quando quiser, com quem quiser, com as roupas que se quiser. Não há regras fixas que se tenham de aplicar… - explica.


Com trinta anos, passou metade da vida a andar de skate. Está neste projecto desde o seu início, mas não se considera um professor.


- O skate é uma modalidade complicada porque requer destreza e aptidão física. Não é uma disciplina em que se possa sentar os alunos e explicar a matéria. O que eu faço aqui é dizer como é que eles têm de pôr os pés, como mexer os ombros, como saltar, mas tudo depende deles. – enquanto fala tira um cigarro do bolso de trás das calças.


- Agora não digas que fumo durante a aula! – reclama. Os motivos são mais que justos. – Desde sempre que há a imagem de que o skate está relacionado com a marginalidade, o vandalismo, as drogas. As pessoas não percebem que não podemos julgar as atitudes de dois ou três e pôr tudo no mesmo saco. – Gesticula freneticamente, quase deixando cair o cigarro - Há pessoas boas e pessoas más em todo o lado, há jogadores de futebol que se drogam, mas ninguém vai impedir o filho de jogar à bola por causa disso! O skate tem de ser visto como uma actividade desportiva; se aqueles que o praticam têm bons ou maus comportamentos depende deles mesmos.


Segue-se um silêncio de segundos, em que leva o cigarro à boca e retoma a postura inicial.


- Mas as pessoas dizem sempre mal daquilo que não conhecem, e nós estamos aqui para tentar mudar essa mentalidade.


Não é o caso do Manel. O pai não só não o proíbe de andar de skate, como pô-lo na escola assim que esta abriu, para que o filho melhorasse o seu desempenho na actividade. O Manel tinha então quatro anos.


- Ele teve contacto com o skate e sentiu-se atraído, como qualquer miúdo fica. Comecei a trazê-lo para a Casa da Música, porque sabia que aqui havia outros miúdos a praticar, e acabei por ter conhecimento da escola.


Rui não tem dúvidas de que as aulas têm beneficiado o filho. As melhorias têm-se sentido não só a nível técnico como também nas suas relações interpessoais.


- Ele não era um menino muito sociável, e o convívio com os outros miúdos levou-o a criar amizades e dar-se mais com as outras pessoas.


Mas a aceitação de Rui pelo skate foi mais além. Graças ao filho, Rui iniciou-se na prática do longboard.


- Foi o Manel que me trouxe para isto. – sorri - Dei por mim aqui sentado duas horas a olhar para ele, e depois vi um longboard, experimentei, e comecei a aproveitar o tempo. Em vez de estar aqui parado, vou-me divertir também.


A segunda parte da aula acontece na parte de trás da Casa da Música, para onde todos se dirigem. Aqui, há um passeio alto que as crianças têm de descer com ollies. A presença dos pais vai-se revelar de extrema importância para este exercício: o passeio dá para uma saída de um parque de estacionamento, e são eles quem verifica se vem algum carro, enquanto o Hugo circula por entre os rapazes corrigindo as suas posições e demonstrando como devem fazer.


Os rapazes fazem uma fila e vão saltando, à vez, para baixo. A maioria consegue fazer os saltos bastante altos, pelo que o grau de dificuldade do exercício vai ser aumentado para eles. Agora, não só têm de saltar o passeio, como saltar, simultaneamente, uma barreira criada por Hugo com o seu próprio skate. Ao princípio, as crianças acabam sempre com os joelhos no chão, mas nem por isso desistem. Enquanto saltam, os pais e os “colegas de turma” manifestam o seu apoio, dando-lhes a confiança tão necessária aos bons resultados.


Cinco menos um quarto. A aula começa a esmorecer lentamente. As crianças estão de novo agitadas, exigindo a atenção dos adultos, que combinam uma ida à Maia, no dia seguinte.


- As aulas são maioritariamente na Casa da Música – explica Zé – mas de vez em quando vamos para outros locais, como os skateparks da Maia e Póvoa de Varzim.


- Todos os sítios são diferentes e requerem habilidades diferentes. Se andarmos sempre no mesmo sítio acabamos por nos fartar. – acrescenta Hugo – Os níveis de dificuldade também variam, por isso tentamos que eles aprendam a aproveitar os diferentes locais e saberem enquadrar-se.


Na sua opinião, estas saídas são, talvez, o mais vantajoso das aulas de skate. Em vez de pedirem aos pais que os levem até ao local, vão todos juntos, de metro, como um grande grupo.


- Eles estão nas aulas para aprender a andar de skate, mas também para fazer amizades, e estes passeios acabam por fortalecer os laços entre eles. Quando lhes dizemos que vamos para algum lado, é a festa total! E nós estamos aqui é para os acompanhar, para lhes dar esse doce que lhes faz falta.


São os próprios alunos que acabam por dar a aula como terminada. Cansados, vão-se sentando com os adultos, a lanchar. Amanhã, para a semana, no mês que vem, cá estarão de novo, com essa força de pequenos gigantes apaixonados pelo skate.

06 junho, 2009

3 pelo preço de 1/4!!

Fui à Fnac e dei com um achado, uma dádiva vinda directamente dos deuses. Trata-se de livros, obviamente. Mais concretamente, uma colecção da Quasi, com títulos clássicos ou de autores clássicos... Trouxe três: O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, Carta ao Pai, do Kafka e O Crime de Lorde Arthur Savile, de oscar Wilde. E o que tem isto de especial? Cada um custou 1,50€!
É caso para dizer, leve 3 pelo preço de 1/4!

03 junho, 2009

Professores (parte II)

Os comentários fantásticos que a nossa querida professora pôs nos trabalhos:
  • Está a brincar comigo?!
  • Qual é o seu problema? não ouve o que lhe dizem?
  • Isto não faz sentido.
E o comentário vencedor do óscar:
  • (depois de ter riscado um parágrafo inteiro) E assim comecei a ser feliz!
E acreditem que isto já nem surpreende depois da brilhante resposta que nos deu quando lhe pedimos para falar um bocadinho mais alto: 'Respirem mais baixo!'.

01 junho, 2009

Professores

Quando um professor nos diz que 'isto aqui não é uma democracia, quem faz os testes sou eu, e quanto mais vocês me aborrecem mais difícil vai ser o exame', percebemos que estamos completamente lixados.

23 maio, 2009

Lua Nova

Foi nesse último suspiro de raiva e desilusão que percebi. A lua já ia alta no céu, e soprava um vento frio, arrepiante. Contudo, nada senti, sufocada pela fúria e angústia do momento.Imaginei-me a saltar-te em cima, em cenários de tortura macabra que jamais terei coragem de revelar. Imaginei que se materializavam na minha boca todas as palavras soltas na minha mente, ansiando por te apunhalar. Imaginei. Forcei. Mas nada saiu. Fiquei ali, simplesmente, coberta por um manto de fragilidades, tendo em mim uma única certeza. Acabara de perder um amigo.

Todas as conversas, todas as brincadeiras, todos os risos e invenções que experimentáramos se esvaíam. Transformadas em líquido, corriam furiosamente pelas minhas faces, queimando como se de ácido se tratasse, deixando atrás de si os sulcos de um passado que, sabia agora, jamais se repetiria. Todo o respeito, e consideração que ainda tinha por ti, todos os pequenos pormenores positivos que ainda restavam, toda a possibilidade de uma separação amigável, em que a amizade perdida seria mais tarde recordada com carinho, foram de repente sugados, como uma nuvem que passa e tapa a luz da lua.

Mas para nós, seria sempre lua nova.


22 maio, 2009

Centro de Saúde - o típico sistema português

É nas coisas mais banais que o Estado e o sistema português se revelam. Coisas tão banais como uma ida a um centro de saúde, ou centro de incompetência, como gosto de lhe chamar.

Por um qualquer motivo que desconheço, visto que as secretárias 'só trabalham ali!' e por isso não me podiam informar, agora não se marcam consultas para um dia específico. Em vez disso, vai-se para o centro de saúde o mais cedo possível, e espera-se até se ser atendido. Assim fiz. Quando lá cheguei, a Doutora estava a tomar um cafezinho, mas já vinha. Esperei. Assim que pude fazer ficha para poder ser atendida disseram-me que naquele dia não podia receber consulta, porque aquele dia era para atender as crianças. É que, ao que parece, há um dia para atendimento de crianças, outro para planeamento familiar, outro para consultas de recurso, e outro sabe-se lá mais o quê. MAS, estes dias estão sempre a mudar, por isso não podem afixar qual o dia em que podemos ir para ter uma consulta normal.

Ou seja, se quiserem uma consulta num centro de saúde, vão para lá e rezem. Com sorte, acertaram no dia.

19 maio, 2009

Americanos

Assisti hoje a uma conferência sobre relações transatlânticas dada por um professor americano (infelizmente não apontei o nome). A ideia era um bocadinho perceber se se deveria apostar numa relação União Europeia - EUA, ou, pelo contrário, União Europeia - NATO. Mas comecemos pelo início.

A primeira coisa que o dito senhor referiu foi, como não podia deixar de ser, a segurança. Explicou que vem de uma família que lutou na II Guerra Mundial, e saiu-se com esta belíssima frase: "Não queremos ter de vos ajudar noutra situação igual". Ora que eu saiba, eles nem queriam ajudar, e só o fizeram porque tinham emprestado dinheiro à Inglaterra e França, que estavam nesse momento a perder, pelo que se nada fizessem nunca mais viam o dinheirinho de volta. Ou seja, só ajudaram por interesse próprio, e não pelos motivos "hollywoodescos" de que 'a democracia estava em perigo'. Afinal, a democracia esteve em perigo desde o início.

Estamos, agora, num clima de paz, e formamos a União Europeia, com um poder económico forte, e capacidades de vir a liderar. Mas ainda nos falta, segundo o professor, uma coisa muito importante para podermos ser uma super-potência: um exército forte, com helicópteros que possam leva-lo para onde seja necessário actuar, porque afinal a Europa nunca participa nas questões de guerra, e só dedica 2% do orçamento com a segurança! Se disser que minutos antes o professor tinha referido que nós europeus achávamos que os americanos não percebiam nada dos nossos ideais, então podemos começar a rir. Será que é assim tão difícil perceber que nós não queremos apostar na 'segurança' vinda da violência, mas sim na paz proveniente da força da palavra?

Outra ideia maravilhosa que o senhor passou, é que a União Europeia corre perigo, ao depender tanto da energia proveniente da Rússia. Isto veio a propósito dos problemas entre este país e a Geórgia, durante o ano passado. Aliás, segundo o senhor, este arrufo traz mais problemas, pois caso a Rússia ataque a Geórgia teremos de pôr em acção o 5º artigo das Nações Unidas. Segundo este artigo, e se há coisa que devemos saber sobre a ONU é este artigo 5º (mais uma vez palavras do caríssimo professor), quando um país é atacado, todos são atacados. Logo, teríamos de atacar a Rússia, mesmo sendo um país aliado. Mais tarde perguntaram como seria se fosse ao contrário e a Geórgia atacasse a Rússia, mas 'neste caso o 5º artigo não se aplicaria'. A isto não há nada a fazer. Americano há-de ser sempre americano e há-de ser sempre contra a Rússia.

Para terminar, e voltando à reflexão inicial, fez-se uma análise dos dois pontos em que as relações transatlânticas deveriam ser reforçadas. Estas não poderiam ser feitas com os EUA, por causa de um tratado qualquer (não apanhei o nome, peço desculpa) que Malta e Chipre não assinaram. Então a solução passaria pela ligação à NATO, que ainda por cima sendo uma organização militar e juntando-se à União Europeia, nos levaria a lideres mundiais. Ou seja, a solução passa por respeitar o Chipre e a Malta, mas ir contra a vontade francesa, que não faz parte e rejeita totalmente a NATO. Muito bem.

Conclusões desta conferência: os americanos andam assustados com a possibilidade de liderança de outra potência que não eles, e entre a China e a Europa preferem que sejamos nós. Com um jeitinho ainda conseguem meter cá a NATO para nos controlar. Como o senhor disse, ‘a América gostaria de ser o 28º país da União Europeia’ porque afinal, ‘'nós queremos que vocês nos vejam como o líder com quem podem trabalhar'.

Para aqueles que dizem não gostar de ler

Toda a gente gosta de ler.
Só tem de encontrar o livro certo.

16 maio, 2009

Auto-retrato - (tentativa de) Microconto

Dóris não conseguia parar de escrever. rabiscava constantemente, em blocos e cadernos, folhas brancas e aos quadrados, margens de jornais, livros velhos e papel higiénico. Tudo servia desde que tivesse espaço em branco. Como isto desagradava à sua mãe, que já nem sabia onde pôr as historietas, decidiu leva-la ao médico, pois com certeza tinha algum problema! Após as análises, lá veio o resultado, juntamente com um médico muito espantado:

- O problema da sua filha é que o que lhe corre nas veias não é sangue... são palavras! Sabe por acaso o que pode originar essa doença?

E depois de muito pensar, a mãe lá lhe respondeu, muito certa do que dizia:

- Olhe, sr. doutor, ela devora livros!

11 maio, 2009


Assim é que devia ser. Agora pessoal de bike nos
quarters da Póvoa, não dá com nada!

09 maio, 2009

Skate Plaza

A ideia já anda à baila há uma década, mas só em 2005 é que Rob Dyrdek, em parceria com a DC shoes, passou das ideias aos actos e criou a primeira Skate Plaza do mundo, em Ohio, nos EUA.

Os skate plaza são, nada mais nada menos, que a evolução dos já conhecidos skateparks. Enquanto os seus antecessores apresentam uma série de estruturas como os half-pipes e as fun-box, estes pretendem enquadrar uma vertente diferente, o street skate. São, portanto, praças gigantescas salpicadas por rampas, escadas, corrimões e pequenos muros, numa tentativa de imitar os obstáculos do dia-a-dia.

De facto, segundo um estudo da BoardTrac realizado nos EUA em 2006, 78% dos (na altura) 13 milhões de praticantes de skate no país, preferem o street como modalidade, o que confere uma grande importância a estes espaços. Se, no entanto, nesse país isto poderá ser uma escolha, em Portugal é quase que uma obrigação: não há skateparks, e os que há, não têm condições para se andar.

Outro factor a ter em conta, é que os espaços onde se consegue praticar este desporto são normalmente escassos, pelo que estão, normalmente, atulhados de gente. A existência destas construções permite, assim, uma maior liberdade de movimento e um maior convívio, na medida em que os praticantes espalhados pelos vários pontos da cidade ficariam assim reúnidos num só.

Pegando então no convívio entre skaters, e em jeito de conclusão, acrescenta-se o facto de as Plazas se mostrarem como um espaço para a prática de skate, onde não há a interferência de velhinhas rabujentas, seguranças mal encarados, ou, até, polícias cumpridores. A skate plaza é um espaço de skaters, para skaters.

Resta então esperar que o projecto avance e chegue a Portugal.


(para mais informações clicar aqui)


06 maio, 2009

O homem da gabardina

O homem da gabardina desceu a rua e dirigiu-se à casa seguinte, com alguma impaciência. Eram três da tarde e ainda não tinha vendido um único gancho que fosse. A porta abriu-se até metade, e uma cabeça despenteada enfiou-se pela abertura. Saudou-a com um sorriso formal e a lenga-lenga do costume.

- Satisfaço sonhos e desejos de porta em porta. Em que posso ajudá-la hoje?

- Não estou interessada em nada. – respondeu a rapariga, preparando-se para regressar ao interior da habitação.

- Mas como pode saber isso, se ainda não viu o que tenho para oferecer? – a rapariga revirou os olhos, e lá concordou em ver os produtos. O homem desapertou, então, o cinto, e afastou os dois pedaços de tecido.

O interior da gabardina estava coberto de objectos de todas as cores e tamanhos, desde relógios, sabonetes e escovas, a colares de diamantes e pulseiras feitas de osso, canivetes, abre-latas, caricas e berlindes, cabides e latas de sumo, isqueiros, bolas de plasticina, batedeiras eléctricas e óculos de sol, pendurados em fitas de pano ou a espreitar de grandes bolsos amontoados por todo o lado.
A rapariga esfregou os olhos, mas não se deixou convencer pelo espectáculo.

- Não me parece que tenha aí nada que me atraia. – torceu o nariz.

- Ah, e então o que é que a atrai?

A rapariga hesitou antes de responder, fixando algo invisível no horizonte.

- Quero uma máquina de teleporte. Quero conseguir, num segundo, chegar ao outro lado do mundo! – riu-se para dentro. Para esta, o vendedor não teria resposta.

- Um objecto que lhe permita sair daqui e atravessar o mundo… - pensou - Visitar as pirâmides do Egipto e a Estátua da Liberdade, comer uma pizza italiana, salsichas alemãs ou sushi, navegar no rio Nilo, ou mergulhar no Pacífico… Um objecto que possibilite regressar à Grécia Antiga, ou experimentar a sociedade perfeita do século quarenta e dois… Uma máquina que cosa remendos e prepare refogados, faça massagens e apanhe a fruta. Quer poder experimentar sensações, desde a mais descontrolada raiva, ao remorso mais doloroso. Encontrar-se com piratas, bruxas e anões, falar com poetas mortos e pintores mal-sucedidos. Quer poder mudar a História, inventar uma cura para o cancro ou uma almofada hipoalergénica. Quer ser médica ou curandeira, possuir um tesouro imenso ou navegar na mais cruel pobreza. Quer ser polícia, ladrão, advogada ou juíza. Mudar o estado do tempo com um assobio, as estações do ano com um sopro. Tornar um quarto crescente em minguante, fazer tremer a Terra ou explodir um vulcão. Quer morrer e voltar a acordar. Saber de cor os princípios do cristianismo, budismo e judaísmo. Ser pagã ou agnóstica… Oh, sim, tenho aqui exactamente o que precisa!

A rapariga não aguentou mais, morrendo de curiosidade.

- É mesmo possível fazer tudo isso com uma só máquina?!

Então o homem curvou-se sobre si mesmo, remexendo as diversas divisões e compartimentos da sua gabardina, e tirou um objecto quadrado, com pouco mais de um palmo de comprimento.

- Toma. Este fica por minha conta. – e o homem da gabardina desceu a rua em direcção à casa seguinte, deixando a rapariga especada, com o livro nas mãos.

04 maio, 2009

Dias Soltos

Este blogue não é mais do que alguns dias soltos da minha história, das minhas histórias, das minhas memórias, pensamentos, decisões. Um pouco de eu e um pouco do resto. Vamos lá ver no que é que dá.