23 maio, 2009

Lua Nova

Foi nesse último suspiro de raiva e desilusão que percebi. A lua já ia alta no céu, e soprava um vento frio, arrepiante. Contudo, nada senti, sufocada pela fúria e angústia do momento.Imaginei-me a saltar-te em cima, em cenários de tortura macabra que jamais terei coragem de revelar. Imaginei que se materializavam na minha boca todas as palavras soltas na minha mente, ansiando por te apunhalar. Imaginei. Forcei. Mas nada saiu. Fiquei ali, simplesmente, coberta por um manto de fragilidades, tendo em mim uma única certeza. Acabara de perder um amigo.

Todas as conversas, todas as brincadeiras, todos os risos e invenções que experimentáramos se esvaíam. Transformadas em líquido, corriam furiosamente pelas minhas faces, queimando como se de ácido se tratasse, deixando atrás de si os sulcos de um passado que, sabia agora, jamais se repetiria. Todo o respeito, e consideração que ainda tinha por ti, todos os pequenos pormenores positivos que ainda restavam, toda a possibilidade de uma separação amigável, em que a amizade perdida seria mais tarde recordada com carinho, foram de repente sugados, como uma nuvem que passa e tapa a luz da lua.

Mas para nós, seria sempre lua nova.


22 maio, 2009

Centro de Saúde - o típico sistema português

É nas coisas mais banais que o Estado e o sistema português se revelam. Coisas tão banais como uma ida a um centro de saúde, ou centro de incompetência, como gosto de lhe chamar.

Por um qualquer motivo que desconheço, visto que as secretárias 'só trabalham ali!' e por isso não me podiam informar, agora não se marcam consultas para um dia específico. Em vez disso, vai-se para o centro de saúde o mais cedo possível, e espera-se até se ser atendido. Assim fiz. Quando lá cheguei, a Doutora estava a tomar um cafezinho, mas já vinha. Esperei. Assim que pude fazer ficha para poder ser atendida disseram-me que naquele dia não podia receber consulta, porque aquele dia era para atender as crianças. É que, ao que parece, há um dia para atendimento de crianças, outro para planeamento familiar, outro para consultas de recurso, e outro sabe-se lá mais o quê. MAS, estes dias estão sempre a mudar, por isso não podem afixar qual o dia em que podemos ir para ter uma consulta normal.

Ou seja, se quiserem uma consulta num centro de saúde, vão para lá e rezem. Com sorte, acertaram no dia.

19 maio, 2009

Americanos

Assisti hoje a uma conferência sobre relações transatlânticas dada por um professor americano (infelizmente não apontei o nome). A ideia era um bocadinho perceber se se deveria apostar numa relação União Europeia - EUA, ou, pelo contrário, União Europeia - NATO. Mas comecemos pelo início.

A primeira coisa que o dito senhor referiu foi, como não podia deixar de ser, a segurança. Explicou que vem de uma família que lutou na II Guerra Mundial, e saiu-se com esta belíssima frase: "Não queremos ter de vos ajudar noutra situação igual". Ora que eu saiba, eles nem queriam ajudar, e só o fizeram porque tinham emprestado dinheiro à Inglaterra e França, que estavam nesse momento a perder, pelo que se nada fizessem nunca mais viam o dinheirinho de volta. Ou seja, só ajudaram por interesse próprio, e não pelos motivos "hollywoodescos" de que 'a democracia estava em perigo'. Afinal, a democracia esteve em perigo desde o início.

Estamos, agora, num clima de paz, e formamos a União Europeia, com um poder económico forte, e capacidades de vir a liderar. Mas ainda nos falta, segundo o professor, uma coisa muito importante para podermos ser uma super-potência: um exército forte, com helicópteros que possam leva-lo para onde seja necessário actuar, porque afinal a Europa nunca participa nas questões de guerra, e só dedica 2% do orçamento com a segurança! Se disser que minutos antes o professor tinha referido que nós europeus achávamos que os americanos não percebiam nada dos nossos ideais, então podemos começar a rir. Será que é assim tão difícil perceber que nós não queremos apostar na 'segurança' vinda da violência, mas sim na paz proveniente da força da palavra?

Outra ideia maravilhosa que o senhor passou, é que a União Europeia corre perigo, ao depender tanto da energia proveniente da Rússia. Isto veio a propósito dos problemas entre este país e a Geórgia, durante o ano passado. Aliás, segundo o senhor, este arrufo traz mais problemas, pois caso a Rússia ataque a Geórgia teremos de pôr em acção o 5º artigo das Nações Unidas. Segundo este artigo, e se há coisa que devemos saber sobre a ONU é este artigo 5º (mais uma vez palavras do caríssimo professor), quando um país é atacado, todos são atacados. Logo, teríamos de atacar a Rússia, mesmo sendo um país aliado. Mais tarde perguntaram como seria se fosse ao contrário e a Geórgia atacasse a Rússia, mas 'neste caso o 5º artigo não se aplicaria'. A isto não há nada a fazer. Americano há-de ser sempre americano e há-de ser sempre contra a Rússia.

Para terminar, e voltando à reflexão inicial, fez-se uma análise dos dois pontos em que as relações transatlânticas deveriam ser reforçadas. Estas não poderiam ser feitas com os EUA, por causa de um tratado qualquer (não apanhei o nome, peço desculpa) que Malta e Chipre não assinaram. Então a solução passaria pela ligação à NATO, que ainda por cima sendo uma organização militar e juntando-se à União Europeia, nos levaria a lideres mundiais. Ou seja, a solução passa por respeitar o Chipre e a Malta, mas ir contra a vontade francesa, que não faz parte e rejeita totalmente a NATO. Muito bem.

Conclusões desta conferência: os americanos andam assustados com a possibilidade de liderança de outra potência que não eles, e entre a China e a Europa preferem que sejamos nós. Com um jeitinho ainda conseguem meter cá a NATO para nos controlar. Como o senhor disse, ‘a América gostaria de ser o 28º país da União Europeia’ porque afinal, ‘'nós queremos que vocês nos vejam como o líder com quem podem trabalhar'.

Para aqueles que dizem não gostar de ler

Toda a gente gosta de ler.
Só tem de encontrar o livro certo.

16 maio, 2009

Auto-retrato - (tentativa de) Microconto

Dóris não conseguia parar de escrever. rabiscava constantemente, em blocos e cadernos, folhas brancas e aos quadrados, margens de jornais, livros velhos e papel higiénico. Tudo servia desde que tivesse espaço em branco. Como isto desagradava à sua mãe, que já nem sabia onde pôr as historietas, decidiu leva-la ao médico, pois com certeza tinha algum problema! Após as análises, lá veio o resultado, juntamente com um médico muito espantado:

- O problema da sua filha é que o que lhe corre nas veias não é sangue... são palavras! Sabe por acaso o que pode originar essa doença?

E depois de muito pensar, a mãe lá lhe respondeu, muito certa do que dizia:

- Olhe, sr. doutor, ela devora livros!

11 maio, 2009


Assim é que devia ser. Agora pessoal de bike nos
quarters da Póvoa, não dá com nada!

09 maio, 2009

Skate Plaza

A ideia já anda à baila há uma década, mas só em 2005 é que Rob Dyrdek, em parceria com a DC shoes, passou das ideias aos actos e criou a primeira Skate Plaza do mundo, em Ohio, nos EUA.

Os skate plaza são, nada mais nada menos, que a evolução dos já conhecidos skateparks. Enquanto os seus antecessores apresentam uma série de estruturas como os half-pipes e as fun-box, estes pretendem enquadrar uma vertente diferente, o street skate. São, portanto, praças gigantescas salpicadas por rampas, escadas, corrimões e pequenos muros, numa tentativa de imitar os obstáculos do dia-a-dia.

De facto, segundo um estudo da BoardTrac realizado nos EUA em 2006, 78% dos (na altura) 13 milhões de praticantes de skate no país, preferem o street como modalidade, o que confere uma grande importância a estes espaços. Se, no entanto, nesse país isto poderá ser uma escolha, em Portugal é quase que uma obrigação: não há skateparks, e os que há, não têm condições para se andar.

Outro factor a ter em conta, é que os espaços onde se consegue praticar este desporto são normalmente escassos, pelo que estão, normalmente, atulhados de gente. A existência destas construções permite, assim, uma maior liberdade de movimento e um maior convívio, na medida em que os praticantes espalhados pelos vários pontos da cidade ficariam assim reúnidos num só.

Pegando então no convívio entre skaters, e em jeito de conclusão, acrescenta-se o facto de as Plazas se mostrarem como um espaço para a prática de skate, onde não há a interferência de velhinhas rabujentas, seguranças mal encarados, ou, até, polícias cumpridores. A skate plaza é um espaço de skaters, para skaters.

Resta então esperar que o projecto avance e chegue a Portugal.


(para mais informações clicar aqui)


06 maio, 2009

O homem da gabardina

O homem da gabardina desceu a rua e dirigiu-se à casa seguinte, com alguma impaciência. Eram três da tarde e ainda não tinha vendido um único gancho que fosse. A porta abriu-se até metade, e uma cabeça despenteada enfiou-se pela abertura. Saudou-a com um sorriso formal e a lenga-lenga do costume.

- Satisfaço sonhos e desejos de porta em porta. Em que posso ajudá-la hoje?

- Não estou interessada em nada. – respondeu a rapariga, preparando-se para regressar ao interior da habitação.

- Mas como pode saber isso, se ainda não viu o que tenho para oferecer? – a rapariga revirou os olhos, e lá concordou em ver os produtos. O homem desapertou, então, o cinto, e afastou os dois pedaços de tecido.

O interior da gabardina estava coberto de objectos de todas as cores e tamanhos, desde relógios, sabonetes e escovas, a colares de diamantes e pulseiras feitas de osso, canivetes, abre-latas, caricas e berlindes, cabides e latas de sumo, isqueiros, bolas de plasticina, batedeiras eléctricas e óculos de sol, pendurados em fitas de pano ou a espreitar de grandes bolsos amontoados por todo o lado.
A rapariga esfregou os olhos, mas não se deixou convencer pelo espectáculo.

- Não me parece que tenha aí nada que me atraia. – torceu o nariz.

- Ah, e então o que é que a atrai?

A rapariga hesitou antes de responder, fixando algo invisível no horizonte.

- Quero uma máquina de teleporte. Quero conseguir, num segundo, chegar ao outro lado do mundo! – riu-se para dentro. Para esta, o vendedor não teria resposta.

- Um objecto que lhe permita sair daqui e atravessar o mundo… - pensou - Visitar as pirâmides do Egipto e a Estátua da Liberdade, comer uma pizza italiana, salsichas alemãs ou sushi, navegar no rio Nilo, ou mergulhar no Pacífico… Um objecto que possibilite regressar à Grécia Antiga, ou experimentar a sociedade perfeita do século quarenta e dois… Uma máquina que cosa remendos e prepare refogados, faça massagens e apanhe a fruta. Quer poder experimentar sensações, desde a mais descontrolada raiva, ao remorso mais doloroso. Encontrar-se com piratas, bruxas e anões, falar com poetas mortos e pintores mal-sucedidos. Quer poder mudar a História, inventar uma cura para o cancro ou uma almofada hipoalergénica. Quer ser médica ou curandeira, possuir um tesouro imenso ou navegar na mais cruel pobreza. Quer ser polícia, ladrão, advogada ou juíza. Mudar o estado do tempo com um assobio, as estações do ano com um sopro. Tornar um quarto crescente em minguante, fazer tremer a Terra ou explodir um vulcão. Quer morrer e voltar a acordar. Saber de cor os princípios do cristianismo, budismo e judaísmo. Ser pagã ou agnóstica… Oh, sim, tenho aqui exactamente o que precisa!

A rapariga não aguentou mais, morrendo de curiosidade.

- É mesmo possível fazer tudo isso com uma só máquina?!

Então o homem curvou-se sobre si mesmo, remexendo as diversas divisões e compartimentos da sua gabardina, e tirou um objecto quadrado, com pouco mais de um palmo de comprimento.

- Toma. Este fica por minha conta. – e o homem da gabardina desceu a rua em direcção à casa seguinte, deixando a rapariga especada, com o livro nas mãos.

04 maio, 2009

Dias Soltos

Este blogue não é mais do que alguns dias soltos da minha história, das minhas histórias, das minhas memórias, pensamentos, decisões. Um pouco de eu e um pouco do resto. Vamos lá ver no que é que dá.