26 setembro, 2010

Acasos

- Não andes por aí, Carina, vais cair.
A criança não liga nenhuma, e continua a pôr um pé a seguir ao outro, sobre o muro de pedra.
- Já te disse para saires daí... Tu vais cair! Vais cair e vai ser bem feita.
Ante o desacreditar da mãe, a menina cai, esfola o joelho, e começa a chorar.
- Caramba, Carina, eu bem avisei! - a mãe levanta-se e dá duas sapatadas na filha por ter caído.

Trinta e cinco anos depois.

Carina está deitada com o marido. Está naquele estado em que não estamos acordados apesar de também não estarmos a dormir. A letargia é interrompida subitamente pelo barulho de chapa contra chapa, e o chiar de travões. Carina levanta-se subitamente, com o coração aos pulos. "Foi o meu carro?". Desce as escadas a correr e abre a porta. Não importa que esteja de pijama, tem de se certificar. "Foi o meu!". Uma mossa do lado esquerdo, o pára-choques destruído, o retrovisor no chão. Do outro carro, o que bateu, sai uma senhora. Vem a mancar, as mãos a tremer sobre o rosto, a prender o choro.
- Mas qual é a sua?! - grita Carina, a fúria a sair -lhe pela boca entre golfadas de ar - Não acredito que me foi fazer isto, é que não acredito mesmo! É preciso muita lata...

Carina aprendeu que somos sempre culpados das nossas acções. Não acredita em "sem-querer", em acasos ou acidentes. A culpa? Da sua mãe.

24 setembro, 2010

As Dez Figuras Negras, Agatha Christie

 
«Um de nós... um de nós... um de nós...»
Estas palavras, infinitamente repetidas, matraqueavam hora após hora em cérebros receptivos. 
Cinco Pessoas - cinco pessoas assustadas. Cinco pessoas que se vigiavam umas às outras, que agora já quase não disfarçavam o seu estado de tensão nervosa.


E se dez pessoas fossem convidadas para passar um tempo numa ilha... sem conhecer o dono? E se essas pessoas começassem a morrer aos pouquinhos? O criminoso só pode ser um deles. Mas quem? 

Este é o primeiro livro que leio de Agatha Christie. Pelo que soube da autora, esta criou duas personagens que costumam rivalizar com Sherlock Holmes, sendo elas Hercule Poirot, e Miss Marple. Nesta história não entra nenhum dos dois, assim como não é uma história de detectives dita "normal". Isto porque neste tipo de histórias costuma haver algum problema que precisa de ser solucionado, enquanto que neste livro a procura da solução e o próprio problema são o mesmo. Todas as personagens procuram descobrir quem é o assassino, mas todas as personagens podem ser o assassino. Assim, a trama adquire um tom de mistério e suspense que de outra forma não adquiriria.

Um dos aspectos mais positivos do livro será, portanto, todo o jogo psicológico em torno das personagens - os seus medos, as suas suspeitas, as suas memórias. No entanto, acho que por vezes há uma repetição excessiva dos factos, que são repetidos inúmeras vezes. Também não gostei muito da forma como as personagens e a questão é introduzida ao público - através de cartas pessoais que todas as personagens receberam. Isto torna o início pouco cativante e quase confuso, por não se perceber muito bem quem é quem, já que se tratam de tantas personagens.

Tirando isso, posso dizer que Agatha Christie me cativou, pela forma como manteve o suspense e o mistério até ao fim, pela forma como explorou os sentimentos e pensamentos pessoais de cada uma das dez personagens. Posso com certeza afirmar que vou ler mais policiais desta autora. 

23 setembro, 2010

Fazendo trabalho de auto-promoção

Vou partir em breve. Como tal, decidi criar um novo blogue, para expor todas as aventuras. Para quem quiser espreitar, aqui fica o link.

22 setembro, 2010

E se... o mundo fosse governado por hippies?

A moda seria abolida. Veríamos médicas de vestidos de alças e sandálias, banqueiros de peito à mostra e colares africanos ao pescoço, fato-de-treino, pijama, ou o que quer que lhes aprouvesse usar, ou não usar, pois andar nú seria permitido. Mais, não haveria um padrão de beleza - esta seria avaliada pelas acções de cada um, pela sua maneira de estar perante a vida.

Viveríamos em verdadeira comunidade. Se fôssemos na rua e tivéssemos frio, alguém se apressaria a dar-nos o seu casaco que não estava a usar, ou se tivéssemos fome, qualquer pessoa partilharia a sua comida connosco. As ruas, já que falamos nisso, estariam sempre limpas, e haveria muitos mais jardins, árvores e zonas verdes, com animais a correr livres de um lado para o outro. Estes animais, seriam da responsabilidade de todos, que os alimentariam à vez, como uma função colectiva. Não existiriam lojas, e as coisas seriam vendidas em barraquinhas ao ar livre, cobertas com lencinhos coloridos e alegres. 

Não haveria constrangimento ou vergonha. Sentados no metro, falaríamos com a pessoa sentada ao nosso lado como se a conhecêssemos. Assim, as pessoas seriam muito mais instruídas e abertas, aprenderiam a respeitar qualquer pessoa, e qualquer opinião. Extrairiam coisas novas das experiências de vida e dos conhecimentos dos outros, e saberiam argumentar e defender os seus pontos de vista de forma muito mais eficaz.

Teríamos paz perpétua. Os exércitos seriam abolidos, e as desavenças políticas resolver-se-iam com o cachimbo da paz, não só permitido como vivamente aconselhado a todos os cidadãos. Como consequência, existia menos problemas de stress, e desapareceriam muitas doenças como depressões e esgotamentos.

 Os crimes também desapareceriam, visto que viveríamos num ambiente de compreensão e respeito ao próximo. Não conseguiríamos fazer mal ao próximo, assim como não teríamos motivos para roubar, já que tudo seria partilhado por todos. Assim sendo, e visto que haveria à vontade com qualquer pessoa, poderíamos viajar à vontade para outras cidades nesse mundo fora, e bastava bater à porta de alguém para pedir abrigo, que este nos seria concedido. Se bem que, na realidade, a maioria das casas-edifício seria substituída por casas-caracol, sem morada fixa, que é como quem diz carrinhas pão-de-forma (movidas a energia solar, está claro!)

O meio ambiente ganharia muito mais importância - deixaria de haver lixo nas ruas, a reutilização de recursos seria algo natural, assim como a reciclagem, e a poupança. Usar-se-iam apenas energias renováveis, e acabar-se-ia com a poluição.

Se o mundo fosse governado por hippies? A política seria algo intrínseco em cada um de nós. Não haveria leis, não seria preciso.

20 setembro, 2010

um bando de hippies e uma carrinha solar

Um bando de hippies e uma carrinha que funciona a energia solar. É isto que (contaram-me) se pode encontrar no Boom Festival, aquele que é, provavelmente o mais bonito festival a acontecer em Portugal. A carrinha, faz viagens desde a Bélgica (ou seria outro país ali perto, não me lembro com exactidão) até ao interior do nosso país, e faz a viagem de volta no fim do festival. Há dez anos que é assim. 

Perante isto, não percebo porque é que continua a haver este tipo de notícias, sobre catástrofes petrolíferas que destroem lentamente a nossa Casa . Se uma carrinha com um sistema solar construído por hippies funciona desde 2000, e para viagens tão longas como Bélgica (ou o outro país que não me lembro) - Portugal , porque raio ainda não temos carros a energia solar em pleno funcionamento?

A pergunta é retórica, que a resposta sei-a bem. Não se paga taxas para usufruir do sol.

09 setembro, 2010

Só se pode lutar por aquilo que se ama, só se pode amar aquilo que se respeita, só se pode respeitar aquilo que pelo menos se conhece.

- (incrivelmente!) Adolf Hitler, in Mein Kampf