17 março, 2011

Resolução "à rasca"

Já estou há algum tempo para escrever sobre aquele que parece ser o assunto do momento, mas achei abster-me mais um pouco para ver no que é que tudo isto dava. E isto chegou a um ponto que não posso fugir mais ao assunto, principalmente quando vou acabar a licenciatura este ano, tornando-me parte bem activa desta "geração à rasca". 

Um dos argumentos que mais vi entre os opositores a esta luta social, é que há de facto emprego para quem queira trabalhar, e que nós, preguiçosos, é que não fazemos um esforço para o procurar. E de facto têm razão, não faltam aí lugares nas cadeias alimentares e lojas de roupa de centros comerciais. Esquecem-se, no entanto, que o que é por nós reivindicado é o direito de trabalhar na nossa área, de trabalhar naquilo para o qual estudamos e para o qual temos conhecimento. Ninguém se sente realizado por ser o trabalhador do mês no Mcdonalds, e ter a sua fotografia na parede do estabelecimento, peço desculpa. Mas mesmo que puséssemos de lado a ambição e nos contentássemos em fazer fast-food o dia todo, o nosso CV impedir-nos-ia, e a candidatura viria para trás com a justificação "demasiado qualificado".

Pois é. Continuamos a virar-nos para o lado errado, a apostar em dinamizar a falta de pensamento, a estupidificar um povo já de si estupidificado - são as Novas Oportunidades, em que se o 9º ano de escolaridade a qualquer pessoa que se mostre capaz de sintetizar a sua vida, enquanto que os outros, os que apostam no ensino regular, andam a aprender funções matemáticas, pormenores sobre o funcionamento do corpo humano, a ler os Lusíadas. Que se eu soubesse tinha guardado o diário que a minha avó me ofereceu quando aprendi a escrever, onde apontava rigorosamente todos os acontecimentos do dia. Se calhar tinha feito o ensino básico num ano, e, sem motivo para não ser aceite, acabaria a trabalhar à frente da Pepe Jeans, considerada uma pessoa lutadora, de facto. 

Mas a minha pergunta agora é, até quando é que eu poderia dobrar roupa, fazer hambúrgueres, receber dinheiro e entregar o troco? Racionalmente falando, até à idade da reforma. Socialmente falando, até me aparecerem as primeiras rugas e cabelos brancos, e me descaírem ligeiramente os seios. Porque nessas cadeias procura-se gente nova, e é esse o verdadeiro motivo pelo qual há sempre emprego nesses lugares. E agora digam-me. É isso que queremos?

Quando era pequenina, (e continuo a fazê-lo ainda hoje, mas isso é outro assunto) perguntava  sempre porque é que os jogadores de futebol e as modelos recebiam tanto dinheiro. "Porque quando chegam aos 40 anos perdem a beleza/capacidade física e deixam de ter emprego. Guess what, Sherlock? Estamos na mesma situação, e não recebemos mais por isso. Bem pelo contrário, somos vistos como  meninos mimados habituados a ter dinheirinho fácil. 

No último livro que li, As aventuras da menina má, há uma frase que não me saiu da cabeça, quando Ricardo, o protagonista, passa por uma fase de dificuldade económica e diz, desesperado, que passou a ir ao cinema apenas uma vez por semana. Pois é. Eu nunca tive dinheiro para ir ao cinema uma vez por mês sequer, mas eu é que sou da geração mimada. É um facto que existem estes casos, que não são, de todo, uma generalidade, e que podem ser automaticamente excluídos da geração à rasca , já que os  os papás lhes arranjam cunhas para todos as empresas e postos de trabalho que eles queiram. 

Se por acaso nascemos na família errada, (ou se não formos um jogador do Porto, que, com 17 anos, tem a renda da casa paga pelo clube, e ainda recebe mil euros por mês para derreter em bebidas alcoólicas nas discotecas que frequentam duas a três vezes por semana, e roupas de marcas caras que gostam de exibir em público para se sentirem melhor com a sua incapacidade intelectual avançada) somos provavelmente trabalhadores-estudantes, à espera da bolsa de estudo ou já endividados num crédito qualquer, para poder pagar os mil euros de propinas, que o desgraçado do jogador do Porto acha pouco para sobreviver durante um mês. 

E quando chegamos ao fim, descobrimos que não há emprego. Não vamos no entanto fingir que isto é uma coisa nova, quando fomos avisados desde o início.  Lembro-me  perfeitamente que desde o início do secundário que os professores nos avisavam da falta de emprego que afecta todas as áreas, de nos dizerem que se quisermos progredir teremos de ser dinâmicos, criativos, elásticos, saltar de um posto para outro, quais sapinhos à procura de insectos. E a culpa é de uma sociedade conformada, uma sociedade que continua a dar mais valor ao aspecto físico do que às qualidades, que continua a tratar o futebol como uma religião. O dinheiro continua a ser mal canalizado, os empregos continuam a ser dados a conhecidos, muitos deles sem o mínimo de conhecimentos na área, a fazer um trabalho mal feito que faz deste país, mais uma vez, um país de estúpidos.

Mas a solução, meus amigos, não passa por ir para a rua agitar umas bandeiras e cantar durante uma tarde. Isso é mais uma forma de nos fazermos de burros. Acreditarmos que fizemos alguma coisa, e voltarmos para casa contentes e realizados, e mais uma vez conformarmo-nos com a situação. Que ao governo, tanto se lhes dá como se lhes deu se saímos todos à rua ou ficamos em casa durante uma tarde. A solução, é mudarmos este sistema, mudarmos esta sociedade, deixarmos de nos fazer de estúpidos e começar a pensar e agir de verdade. 

Como? Não sei. Se soubesse, era a primeira a levantar-me para fazer a revolução.

1 comentário:

Unknown disse...

boa Becky, luta! O povo tem de lutar!