16 março, 2011

As travessuras da menina má, Mario Vargas Llosa

Ricardo vê cumprido, muito cedo na vida, o sonho que sempre alimentara de viver em Paris. Mas o reencontro com um amor da adolescência mudará tudo. Essa jovem, inconformista, aventureira, pragmática e inquieta, arrasta-lo-á para fora do estreito mundo das suas ambições.

Quando comecei a ler este livro, tive a sensação de que era aborrecido. Parecia-me mais um romancezinho comum, com uma história centrada no casal, desde os tempos mais primórdios até ao fim das suas vidas. No entanto, à medida que progredimos na leitura, descobrimos que o autor consegue abster-se da história principal, fazendo quase um retrato social da Europa do ultimo século.  Intercalando os encontros e desencontros do casal, contempla-nos com as suas aventuras em diferentes épocas, cidades e sociedades, descrevendo-as e esmiuçando-as com todos os seus positivos e negativos: desde um Peru em revolução constante à Londres dos hippies e a Paris dos artistas.

Não nos deixemos, no entanto, enganar. Estas descrições são de tal modo agradáveis, engraçadas e deliciosas, que quase que arrancamos imediatamente em busca de um bilhete de avião para lá, se fosse possível regressar ao passado. Mais, o autor presenteia-nos, ao mesmo tempo, com um leque de personagens caricatas, muito especificas, com as quais não podemos deixar de simpatizar, cada qual à sua maneira . Mesmo com os dois protagonistas principais, a menina má, que não se cansa de nos aborrecer com as decisões que toma, e o Ricardo, por ser tão parvo e estar sempre lá para ela, mesmo quando ela não se cansa de brincar com os sentimentos dele.

Se alguma coisa há a apontar à história, será, talvez, alguma insegurança um bocadinho antes do final, em que muitos pensamentos e ideias são repetidos, que, embora se justifiquem, poderiam ter sido explorados de outra forma.

"As travessuras da menina má" é assim uma história de múltiplos rostos, múltiplas personalidades, múltiplos quadros e situações sociais. Uma história ideal para quem, mais do que histórias de amor, gosta de se perder em multiplicidade cultural.

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