Com efeito, todos os dias ouvimos alguém queixar-se de algo. Ou o autocarro que se atrasou, ou a vizinha de baixo que faz muito barulho e não deixa o menino dormir, ou o mau gosto da colega, que levou uma camisa rosa choque para o trabalho.
Não me interpretem mal. Como pessoa (e, sobretudo, mulher) que sou, também eu gosto desse maravilhoso passatempo que é implicar com as coisas. O problema não é, portanto, a má lingua, mas tão somente o facto de que as pessoas já não sabem falar mal.
Há ainda o caso extremo, em que acto e pessoa se fundem e, enrolando-se na má língua dão origem à língua afiada. Aí, os motivos já são em maior quantidade e mais originais, que uma pessoa, para insultar outra, tem sempre o que dizer. Se a Fifi da mercearia deixou cair o troco para trás do balcão, torna-se logo uma ladra, que sempre escondeu dinheiro numa das botas, quando o patrão não estava a olhar... Que só abusa da bondade do pobre senhor, já tão velhinho... E afinal verifica-se que toda a gente sempre se soube que ela era má rés, só não se lembraram foi de dizer...
Enfim, já não se sabe dizer mal em Portugal, é o que é. E os que dizem não passam de uma cambada de anormais e deficientes, sem mais nada para fazer - faltava dizer isto, que me estão a acabar os argumentos.