18 abril, 2010

Dia 1: A tua música preferida



Gritam em mim milhões de átomos, fazendo explodir vulcões de adrenalina que correm agora por todo o meu corpo. O medo empurra-a pelas minhas veias, atirando suores frios para as minhas costas, fazendo tremer as minhas mãos. O barulho das tábuas a bater no chão inensifica-se milhares de vezes na minha mente. O som de metal contra metal ressoa nos meus ouvidos. Os "Oh!'s" de admiração materializam-se à minha volta. Por momentos, duvido do próprio sítio onde me encontro, do que estamos ali a fazer.

Actos de vandalismo, diriam os outros, os que não sabem, os que não sentem, os que apenas vêm com os olhos voltados para o interior, olhando para si mesmos como seres perfeitos. Tretas. Vísceras e sebo, é tudo o que os preenche, a todos eles. São todos iguais. Fabricados em série, dizem sempre as mesmas coisas, pensam sempre da mesma maneira, cometem sempre os mesmos erros. Não aceitam a nossa determinação em não aceitar, questionam o nosso constante questionar, criticam o nosso criticar. Os seus olhos rolam pelos nossos corpos, saltando dos piercings para as tatuagens, para os cabelos pintados de cor-de-rosa, azul ou verde, para as roupas sujas e o calçado rasgado. Reviram, amplificando cada uma dessas partes até nos tornarem em gigantes maiores do que montanhas. Subitamente, imagens do diabo materializam-se à sua frente. É isso que somos para eles. A destruição, o errado, o não-se-faz.

Pouco nos importa. Ao não-se-faz respondemos com um tanto-faz. Somos aqueles que comem as sobras de comida que outros deixaram para trás, que tomamos banho em fontes quando faz calor, que vamos ao supermercado de pijama para não termos de nos vestir. Somos aqueles que não fazem a cama, que deixamos a roupa no chão, somos aqueles que não têm medo do rir. Se riem de nós, rimos com eles, por se manterem nessa ignorância eterna sem se esforçarem para sair.

A eles, está-lhes vedado o acesso à liberdade, a essa palavra secreta que só nós conhecemos, "trash". Nunca sentirão a adrenalina a correr no seu corpo, o skate sob os seus pés, o vento nas suas faces. Somos o diabo? Somos semi-aves com acesso aos céus mesmo sem ter asas. Juntos, voamos por mundos só nossos, partilhando tudo quanto temos, partilhando a própria alegria, partilhando vida.

5 comentários:

Rui Bastos disse...

Grande música. Grande texto. Estou assim --> O.O

D.C.S. disse...

texto fantástico :D adorei!

Beky disse...

ena, muito obrigada aos dois! :D

Máfia disse...

Tanta palavra deixou me com sono =\ Pra testamentos já chegam os da biblia ó !
Ahahahah

Beky disse...

tambem não esperava que alguem do teu calibre compreendesse. pensando bem, até tou surpreendida por saberes ler. x)