Paris é considerada a cidade mais romântica do mundo. Sempre discordei deste pensamento até visitar a cidade. Há tantos espaços no mundo, cheios de encantos inexplicáveis, que fariam saltar o coração de qualquer casal que por lá se passeasse. Roma, que nos leva para trás, de volta a um tempo em que se usava lençois brancos à volta da cintura, que a perfeição, essa via-se ao longe, esculpida na pedra. Praga, cidade de fábulas e contos de fada, onde tudo parece real e possível. Até mesmo a Londres pacata das casinhas com jardim, onde se imagina logo um casal a envelhecer de mão dada junto à lareira.
Mas então vi Paris. A Paris das ruas estreitas, semi-esquecidas, trocadas pelas grandes avenidas que tomam os turistas, as ciganas surdas-mudas, os cantores de rua e os vendedores ambulantes. A Paris dos croissants a cada esquina, das banquinhas de livros e postais de outra época que se estendem à beira rio. A Paris medieval da Notre-Dame, das histórias enterradas. A Paris da cultura, da boémia, da alegria do carácter bem definido, dos bigodes compridos, das boinas na cabeça e baguetes debaixo do braço.
Sim, Paris é a cidade mais romântica do mundo. Não porque albergue nela a receita secreta dos casais felizes, que esses, se tiverem de o ser, são-no, romanticamente, em qualquer canto do mundo. Paris é aquela mulher enigmática que se deixa gostar facilmente mas parece impossível de conquistar. Faz connosco um jogo de sedução constante, um olhar simultâneo de desafio e repulsa, um sorriso de dúbia confiança e palavras doces cheias de malícia.
Paris é a cidade mais romântica do mundo, sim, mas porque é impossível por lá passarmos sem nos apaixonarmos cegamente por ela.
Por tudo isto, obrigada Woody Allen, por me fazeres reviver Paris.