29 junho, 2010

sussurros

Falavam em nós palavras que não compreendíamos. Sussurradas aos nossos ouvidos, eram quase imperceptíveis. Por vezes, duvidávamos se eram elas ou o vento que passava por nós, que nos fazia olhar para trás para ter a certeza se não éramos seguidos, ou se a rua continuava igual, tanto faz, que nestas coisas o que assusta é a mudança. Estugar o passo. Resmungar para dentro com espanto. Tarefas que nos pareciam impossíveis de momento, tal era o cansaço acumulado nas pernas, nas costas, no pescoço. E as palavras iam surgindo, de dentro para fora, de fora para dentro, morrendo entre a língua e os lábios, não chegando nunca a ser ouvidas, a não ser por aqueles que as criavam. Ficava assim o silêncio, o espaço para os nadas. Mais uma vez, não importava. Entre amigos os vazios trazem sempre muita coisa, mais não seja palavras adormecidas que acordam de repente, que se escapam docemente e que sussurram, secretamente, sem nos darmos conta.

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