Faz a pergunta de novo, mas a resposta é a mesma: um silêncio entrecortado por uma respiração forte, ruidosa. Duas lágrimas caem por entre soluços descontrolados. O telefone continua preso na sua mão. "Desculpa." O céu abate-se sobre ela, como se a força da gravidade se tivesse finalmente imposto, e de repente o chão está mais perto que nunca. Pergunta-se se por algum milagre terá encolhido, qual Alice no País das Maravilhas. Mas o seu mundo de maravilhas não tem nada. Tudo se foi pela frincha da porta do quarto, esse lugar de sonhos onde tantas vezes se refugiara para se esconder da realidade, e que agora se tornara como uma prisão de arame farpado, rasgando-lhe a pele e prenetando o seu íntimo. Porquê. Seria a pergunta correcta a fazer - porquê a mim, porquê agora, por que motivo. Mas a única coisa que pensa é quando. Quando irão as feridas fazer crosta, deixando para trás apenas uma pequena marca da sua existência? Quando irá recordar-se daquele momento com a nostalgia que nos traz lembrarmo-nos do passado? Quando irá voltar a sorrir ao mundo? E de repente a resposta impõe-se, fria e implacável: nunca.
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